Natalia Borges Polesso
Descrição:
Natalia Borges Polesso é uma talentosa autora brasileira que conquistou reconhecimento com obras notáveis, incluindo "A Extinção das Abelhas" e "Amora". Natural do Rio Grande do Sul, sua escrita habilmente mergulha nas complexidades das relações humanas, especialmente no contexto LGBTQ+, explorando identidades e afetos com profundidade e sensibilidade. Com uma trajetória literária destacada por prêmios e aclamação crítica, Polesso se destaca como uma das vozes mais relevantes e inovadoras da literatura contemporânea brasileira, cativando leitores com sua prosa envolvente e reflexiva.
Texto produzido pelos alunos:
Uma “quase distopia”: Análise de A Extinção das Abelhas a partir de sua discussão na Semana do Meio Ambiente do IFMS-CG
Segundo romance de Natalia Borges Polesso, A Extinção das Abelhas foi a obra escolhida para discussão do Arco Literário na Semana do Meio Ambiente de 2023, evento anual do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul, Campus Campo Grande. Com temática distópica, a premissa do livro se encontra no título: a extinção das abelhas. As implicações desse evento, entretanto, não permanecem estanques na questão ambiental, seus impactos são observados, sobretudo, nas relações humanas em um cenário de crise mundial.
De início, penso ser importante apontar o aspecto mais assustador do texto em tela: A Extinção das Abelhas é uma “quase distopia”. Esse gênero, geralmente atribuído à ideia de futuro inalcançável, fantasia, encontra na narrativa de Polesso um cenário muito próximo do cotidiano, assustadoramente real. Assim como em Corpos Secos, obra com participação da autora, a calamidade global se inicia a partir da catalização de problemas já presentes na sociedade: a utilização desenfreada de agrotóxicos - pesticidas, gestão indevida de recursos naturais e a falta de preocupação com suas consequências.
Ademais, outro fator que se destacou durante a discussão da obra foi o do distanciamento humano após o início da crise. Tendo escrito o livro durante a pandemia global de Covid-19, a autora marca o enredo com vivências que soam muito familiares àqueles que foram mais afetados durante esse período. O livro apresenta espaços desolados, nos quais as interações se restringem ao meio digital, afinal, a realidade em A Extinção das Abelhas não permite a construção de qualquer relacionamento verdadeiro ou duradouro.
Natália apresenta aos seus leitores personagens, em sua maioria femininas, que buscam resistir não ao fim do mundo, posto que ele continua, mas ao fim do modo de vida que conhecemos. O livro trata da solidão vivenciada pela personagem central, Regina, quando do abandono da mãe, uma figura errante que foge com um circo quando a filha era muito pequena. Essa solidão persiste no relacionamento superficial com sua orientadora, na mudança de país da melhor amiga, na tentativa de cuidar de Norma, uma catadora de lixo que Regina leva para casa. São vários rompimentos que moldam a personagem que ainda enxerga uma ponta de esperança ao encontrar um grupo de mulheres quando tudo parece perdido.
A Extinção das Abelhas fala diretamente aos sobreviventes, aos que, apesar de tudo, procuram encontrar razões para resistir e ainda têm esperança de que, após as crises, há sempre reconfigurações e recomeços.
Produzido por: Thales Partel e Flávio Amorim
Obra trabalhada: A Extinção das Abelhas
Vó, a senhora é lésbica? Uma experiência de leitura
Vó, a Senhora é Lésbica? é um dos contos presentes na coletânea Amora, escrito por Natalia Borges Polesso, escritora e doutora em Teoria da Literatura. Polesso é reconhecida por várias obras, como Recortes Para Álbum de Fotografia Sem Gente, Coração à Corda, Controle, seu primeiro romance, e A Extinção das Abelhas.
Amora recebeu o Prêmio Jabuti em 2016 e destaca-se por abordar os processos de descoberta, silenciamento, aceitação e angústia vivenciados por mulheres ao se confrontarem com sua homossexualidade em diferentes fases de suas vidas. O conto se passa durante um jantar em família, centrado em duas personagens lésbicas de gerações distintas: Joana e sua avó, Clarissa. Através da pergunta feita por Joaquim, primo de Joana, somos levados a explorar as memórias da neta e a vivenciar a experiência de ser homossexual no contexto brasileiro, por meio de duas perspectivas distintas. Joana enfrenta o temor de não ser aceita por sua família ao iniciar um relacionamento com Taís. Sua avó carrega o fardo de ter que esconder sua identidade e seu relacionamento com tia Carolina por um longo tempo.
Durante o desenrolar da história, o leitor descobre que Joana e Taís se conheceram na faculdade, cursando Literatura e Linguística, respectivamente. O primeiro contato entre as duas ocorreu durante uma aula de uma matéria que ambas cursavam, quando Joana prestou assistência a Tais, que estava com a perna engessada. Nas palavras de Joana, o relacionamento entre elas se desenvolveu de forma natural, apesar das inseguranças, medo do julgamento e da aceitação.
Por outro lado, vemos que a avó Clarissa e a tia Carolina possuem uma relação complexa, influenciada pelos ideais pregados pela sociedade e pela idade. Ao longo da trama, fica evidente como diversos fatores afetam as duas, que lidam com a relação de forma silenciosa. As únicas ocasiões em que se encontram são durante as chamadas tardes de chá. É mencionado que a tia Carolina já foi casada anteriormente. Em uma das cenas, compreendemos que, durante um tempo, houve uma interrupção de suas visitas, acontecimento esse que abala a avó, fazendo-a voltar aos vícios e incertezas.
A leitura do conto é fluida graças à escrita e à linguagem utilizadas pela autora, o que facilita a conexão emocional do leitor com a história. É importante ler essa obra para entendermos que, apesar dos avanços ao longo dos anos, ainda vivemos em uma sociedade que trata com ignorância as mulheres da comunidade LGBTQIAP+. Essa ignorância persiste há muito tempo. A discussão presente na história também envolve o papel que a sociedade impõe às mulheres, seguindo padrões tradicionais de casar-se com homens e se dedicar ao lar, além da maneira como essa mesma sociedade condena aquelas que não se encaixam nesse padrão. A narrativa, com sua diferença geracional, consegue conectar Joana com sua avó, mostrando que ela não está sozinha e que há alguém em quem ela pode encontrar conforto.
A obra compõe os textos selecionados para leitura do Projeto Entreleituras: Arco Literário, que tem por objetivo abordar a representatividade dos sujeitos LGBTQIAP+ na literatura brasileira contemporânea e, dessa forma, buscar promover experiências de alteridade que possam resultar em maior compreensão e diminuição de episódios relacionados à LGBTQIAP+fobia.
Para mim, enquanto estudante e leitora, abordar esse conto no ambiente escolar, considerando o contexto em que vivemos, foi uma experiência profunda e significativa. Essa obra permitiu que nós, estudantes, discutíssemos abertamente o tema e compartilhássemos nossas próprias vivências e experiências. Essa abordagem mostrou que a escola se preocupa em oferecer um espaço onde todos têm a oportunidade de ter suas vozes ouvidas. Também é importante mencionar que nem todos receberam de braços abertos a obra, devido ao assunto abordado. No entanto, essa reação apenas reforçou a importância da resistência e da persistência em ocupar espaços que muitos não esperam que sejam ocupados por um projeto com essa temática. Mesmo diante de barreiras, é essencial continuarmos lutando pela inclusão e pelo respeito.
Produzido por: Karen Eduarda da Silva Oliveira
Obra trabalhada: Vó, a senhora é lésbica? (Amora)