Descobrindo Uirapuru
"Uirapuru" é o quinto livro e o primeiro romance de Febraro de Oliveira, autor campo-grandense ganhador do Prêmio Caio Fernando Abreu de Literatura. A obra nos transporta para a história de Leo, um menino que cresce no contexto de uma ocupação e parte em busca de encontrar seu lugar no mundo, enfrentando ausência materna, descoberta de sua identidade como sujeito LGBTQIAPN+, traumas e violência. Em diversas entrevistas, o autor menciona que a história surge tendo por base a rua em que cresceu, originária de uma ocupação, e para escrevê-la, ele buscou arquivos e relatos dos moradores. Sobre esse processo, ele afirma:
“Minha rua, usada como cenário fictício (porque tudo que é narrado, automaticamente, já se torna ficção), é uma rua que nasce de uma ocupação, perambulando no romance em seu período de transição para a reocupação pela polícia. É algo que aconteceu aqui, mas que não foi registrado." - CRÉDITO: CAMPO GRANDE NEWS
Em nossa roda de discussão sobre a obra, realizada online, em 18 de outubro de 2023, contamos com a presença do autor, o que enriqueceu bastante a conversa, pois os participantes puderam fazer perguntas sobre detalhes da narrativa e Febraro pôde falar sobre seu processo de escrita.
Para mim, foi muito significativo trazer essa discussão para o ambiente escolar, primeiramente porque, ao dar espaço para escritores de nosso estado e cidade, mostramos a importância de valorizar a arte sul-mato-grossense e evidenciar sua existência. Os questionamentos feitos por Febraro sobre a busca pelo pertencimento me chamaram bastante atenção, principalmente pela maneira como ele construiu e teceu a narrativa.
Com sua escrita envolvente, o autor consegue transportar o leitor para o local da história. A construção de todo o cenário nos leva não só a imaginar, mas também a sentir o espaço como um personagem próprio. A quebra da estrutura convencional e os elementos poéticos são o que tornam "Uirapuru" tão mágico, como evidenciado no trecho:
“Imagina, mãe minha: um rato te devorando de fora para dentro. Imagine agora, mãe minha, como me sinto sabendo que te devorei por dentro durante nove meses e permaneço devorando nesses longos vinte e cinco anos. Assim, como os ratos, demos início à nossa vida. Você me devorou e eu te devorei.”
Este trecho estabelece uma ponte com o relacionamento que Lucas possui com a mãe, que faleceu. De maneira poética, Febraro molda seu texto nos mostrando o luto, a culpa e os sentimentos carregados por esse personagem em toda a sua complexidade.